O INÍCIO DO CINEMA DE ATRAÇÃO

O estudo da primeira década do cinema de atração deu-se através das origens do cinema como uma arte que não possuía código próprio de linguagem, tendo nascido do teatro, fotografia, pintura, lanterna mágica e demais avanços com instrumentos ópticos.

Destacam-se as invenções de Thomas Edison, William Kennedy Laurie Dickson, Robert William Paul e irmãos Lumière quanto ao contexto de surgimento, funcionalidades, e diferenças a considerar por pontos negativos e positivos. Dentre essas invenções estavam o cinetoscópio, teatrógrafo, vitascópio e o principal: cinematógrafo. O único que era câmera e projetor, portátil, sem energia elétrica (uso de manivela) e que possibilitou maior difusão pelo mundo, sendo a invenção francesa dos Lumières que também fez muito sucesso nos

Estados Unidos, criando uma ampla demanda dependente desse sistema europeu.

Os costumes da época para entretenimento eram, grande parte, centralizados nos Cafés (europa) e Valdevilles (EUA). Locais que serviam para beber, encontrar amigos, ler jornais, assistir apresentações de cantores e artistas. Normalmente em atos de cerca de 15 a 20 minutos, sem conexão entre si. Sendo assim, os primeiros filmes herdam essa característica de atração autônoma, geralmente feita com uma única tomada, sem cadeia narrativa.

Em 1895 os franceses Irmãos Lumiére apresentavam no Grand Cafe em Paris algumas obras que seriam a primeira divulgação do cinematógrafo, dentre os 10 filmes havia o primeiro, feito em 1892 Workers Leaving the Lumière Factory.

Os Irmãos Lumiére eram na época quem fornecia projetores, suprimentos de filmes e operadores de máquina, lideravam o ramo da produção com o melhor equipamento disponível até o momento. O cinematógrafo era fácil de transportar, era câmera e projetor ao mesmo tempo, era leve e funcionava à manivela. Além disso era possível fazer cópia de negativo e carregava consigo o princípio da liberdade pela fácil exploração pelo mundo. Em contraste a ele, o Kinetoscópio de Edson (1896) pesava mais de 500kgs e usava eletricidade para funcionar.

Apesar das vantagens do cinematógrafo, outros pioneiros ao redor do mundo continuam criando modelos concorrentes, Robert William Paul (britânico) cria o projetor teatógrafo enquanto Thomas Edson cria o vitascópio, com características idênticas ao teatógrafo e acaba sendo o projetor mais vendido no mundo no final da primeira década do século XX.

Mesmo enfraquecendo os Irmãos Lumiére, os EUA dependiam desse sistema dos franceses e faz com que os americanos adiem a necessidade de se desenvolver na questão filmográfica. Vão surgindo mais equipamentos como o Mutoscópio, que folheava fotos num visor individual, e o Biograph, que trabalhava com filmes de 70mm, havendo mais qualidade.

Na França os Irmãos Lumiére competiam com a Star Film (de Mélies) e com a Companhia Pathé (de Charles Pathé). George Meliés era um ilusionista que viu no cinematógrafo uma oportunidade para levar a um próximo nível o entretenimento da ilusão, estava a frente das ideias de registro que ocorreram majoritariamente nesse período.

O tipo de registro dos primeiros filmes possuía caráter documental, mas ainda bastante preso ao estilo teatral de se exibir algo a um público, isto é, interpretando a câmera como um espectador parado no melhor ponto de observação da cena, onde tudo acontece em um plano curto e adaptado ao quadro.

Nos primeiros anos, Meliés dominou a produção do que foi chamado de ficção, porém foi à falência na segunda década, quando o cinema encontra uma narrativa própria.

A Companhia Pathé sobreviveu ao primeiro período e se estabeleceu como produtora e distribuidora de filmes, dominando o mercado mundial até a primeira guerra mundial e tendo comprado a patente dos Lumiére e a Star Film.

No entanto, é de se destacar a partir de então a importante Conferência “Cinema 1900-1906” que ocorreu em 1978 em Brighton, na Inglaterra. Foi nessa conferência que pôde-se finalmente estudar sobre esse período de modo a estabelecer novos critérios de datação, identificação e interpretação para filmes de ficção. Foi quando passou a pensar-se e descobrir-se os motivos de os primeiros filmes serem tão diferentes dos que vieram depois.

A partir disso, Noel Burch, pesquisador, é quem identifica traços de um modo de representação primitivo desse produto histórico. Ele identifica a falta de linearidade, composição frontal e não centralizada, câmera distante da situação, planos abertos, cheios de detalhes e ações simultâneas.

O período da narração já tem uma grande importância à tarefa da montagem e é caracterizado pela manipulação dos acontecimentos, como se fosse a primeira introdução de um narrador. É trazido então o conceito de Meganarrador, que define que todo relato é sempre construído por alguém e nunca se produz automaticamente.

O conceito que acaba nomeando o período estudado, “Cinema de Atração”, vem a partir de Tom Gunning, inspirado no teatro de Sergei Eisenstein. Tem-se então explicado que o gesto essencial do primeiro cinema não era a habilidade imperfeita de contar histórias, mas sim, chamar a atenção do espectador de forma direta e agressiva, isto é, possuindo grande intenção exibicionista.

Para Tom Gunning, espantar/maravilhar/iludir o espectador eram o objetivo principal, tal como um espetáculo. Contar histórias não era primordial, além disso, haviam muitas quebras de possibilidade de construção de um mundo ficcional – lembrando da exceção de

Meliés.

Em vez de mostrar narrativa baseada em personagens que atuam num ambiente ficcional cuidadosamente construído, o cinema de atrações apresenta para o espectador uma variedade surpreendente de “vistas”, que podiam ser: Atualidades não-ficcionais ou Atualidades reconstituídas.

Mas estes dois conceitos servem para diferenciar os filmes que tinham os primeiros indícios documentais (a maioria deles). Enquanto as atualidades não-ficcionais documentavam terras distantes, fatos recentes ou da natureza, as atualidades reconstituídas contavam com encenações de incidentes reais como guerras e catástrofes naturais.

É interessante chamar atenção para Chales Musser, que introduz a ideia de que o primeiro montador foi provavelmente o exibidor de filmes, uma vez que era o exibidor quem controlava a exibição final, decidindo quais rolos exibir, em quais ordens e velocidades.

A respeito de Edwin Porter, destaca-se que “Nas atualidades, misturavam-se filmagens de situações autênticas com reconstituições em estúdio ou locações naturais, uso de maquetes e trucagens. Do mesmo modo, havia cenas documentais nas ficções. A mistura entre esses dois registros era aparentemente considerada normal pelos espectadores.”

Foca-se no domínio da Pathé e nos tipos de filmes que popularizaram, aumentando a demanda e a produção consequentemente, como cenas de guerra e filmes de perseguição. Com isso, é focado nas primeiras mudanças do cinema com tipos de planos diferentes como o primeiro close-up (James Williamson). Porém falar disso aproxima-se muito do cinema de transição, assim seguindo cronologicamente a linha da segunda década do cinema.

 

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