A gigante de telecomunicações americana AT&T é a protagonista de uma notícia que tem agitado a cena audiovisual nos últimos dias. Proprietária WarnerMedia — que detém o estúdio Warner Bros e os canais HBO e CNN – anunciou um acordo de função com a rival Discovery, que reúne o Discovery Kids, TCL, Food Network, Oprah Winfrey’s OWN, entre outros. O anúncio foi feito no último dia 17 de maio. O acordo vai unir um dos mais poderosos estúdios de Hollywood, dono das franquias Harry Potter e dos heróis da DC Comics, entre eles Batman, Mulher Maravilha e Super-Homem, com todo o line-up da Discovery que agrega os canais Animal Planet e Discovery Channel, além de outros que abrigam, sob a chancela da marca, um portfólio de programas de esporte, notícias, comportamento, arquitetura, culinária, vida selvagem, ciência e etc. A nova empresa injetará escala e investimentos significativos, na ordem dos US$ 52 bilhões, projetados para 2023. O objetivo é abocanhar uma gorda fatia do mercado de streaming, que segue em franca ascensão, destronando a Netflix, até então a empresa mais poderosa deste segmento. A Rush Vídeo na qualidade de provedora de conteúdo audiovisual, há 25 anos no mercado, acompanha de perto as movimentações do setor, que tem passado por muitas transformações nos últimos anos, desde a parte técnica, que evoluiu do analógico para o digital, até o surgimento de novos players, como é o caso das plataformas de streaming.
De Olho nos Lucros
Segundo dados divulgados pela própria empresa, a Netflix teve lucro líquido de US$ 1,7 bilhão no 1º trimestre de 2021. O valor representa alta de 141,2% em relação ao mesmo período de 2020, superando a projeção feita no último trimestre de 2020, que estimava lucro líquido de US$ 1,4 bilhão nos primeiros três meses de 2021. Mas, em paralelo, houve uma grande desaceleração na adição de novos inscritos. Foram 3,98 milhões de novos assinantes no mundo, contra os 6,2 milhões esperados. Ao final do trimestre, a plataforma tinha 207,6 milhões de usuários. O número representa alta de 14% na comparação anual, mas está abaixo dos 210 milhões projetados. De acordo com a Netflix, o motivo da desaceleração é a pandemia, afirmando que a Covid-19 levou a atrasos na produção de filmes e séries. A expectativa é gastar mais de US$ 17 bilhões em conteúdo neste ano. Sobre o aumento na base de assinantes abaixo do esperado, a empresa pontuou que não acredita que o crescimento da concorrência no mercado de streaming, com as plataformas Disney+, HBO Max, Apple TV, Amazon Prime, tenha influenciado. “Não acreditamos que a intensidade competitiva tenha mudado materialmente no trimestre ou tenha sido um fator relevante na variação”, diz o relatório divulgado pela Netflix.
O fato é que a fusão da AT&T com a Discovery vai ajudar os dois grupos a se firmarem no mercado de streaming. O valor avaliado para criação deste novo pool de mídia é de US$ 150 bilhões (quase R$ 800 bilhões). A Discovery Channel tem um valor de mercado, incluindo dívidas, de cerca de US$ 30 bilhões. Vale lembrar que em 2018, especialistas do setor já questionaram a ousada compra do conglomerado de entretenimento Time Warner pela AT&T, num negócio de US$ 85 bilhões, justamente num momento em que o cancelando das assinaturas de serviços de televisão a cabo estava começando a ganhar força. Segundo a Anatel, o setor de TV por assinatura no Brasil perdeu, em 2020, cerca de 75 mil clientes ao mês. É um número expressivo, mas ainda assim é menos da metade do ritmo de erosão registrado em 2019, quando o mercado perdeu no mesmo período cerca de 170 mil assinantes por mês. Estas aquisições também marcam uma reviravolta significativa para a AT&T, no que tange o seu ramo de atuação, visto que a gigante das telecomunicações é conhecida por atuar no segmento de linhas de fibra e torres de celular. Agora, ao que parece, vai se dedicar também a produzir entretenimento e saudar Hollywood. As
empresas disseram esperar que o negócio, que deve ser aprovado pelos acionistas e reguladores do Discovery, seja finalizado em meados do próximo ano.
Nasce um Gigante A nova empresa já nasce maior do que a Netflix ou a NBCUniversal, proprietária dos canais e marcas Universal TV, Studio Universal, SyFy e Amo Séries, que no Brasil opera em uma joint venture com o Grupo Globo. Juntas, a WarnerMedia e a Discovery geraram mais de US$ 41 bilhões em vendas no ano passado, com um lucro operacional de US$ 10 bilhões. Essa soma colocaria a nova empresa à frente da Netflix e da NBCUniversal. Com a fusão, o novo grupo fica atrás apenas da Walt Disney Company, que recentemente lançou por aqui o Disney+ e agora se prepara para lançar o Star+, em 31 de agosto, se estabelecendo como a segunda maior empresa de mídia dos Estados Unidos. O objetivo da operação é obter uma receita de mais US$ 52 bilhões em 2023, segundo documento oficial da negociação, publicado pela AT&T.
Para se tornarem competitivas neste duelo de titãs, a AT&T e a Discovery precisaram abrir os cofres e investir pesado no streaming. Somente para construir o HBO Max, que contabiliza cerca de 20 milhões de clientes, a AT&T gastou bilhões. A estratégia, ao que parece, pode ser bem-sucedida. Apesar do aumento da concorrência, a HBO continua se destacando entre outras redes, estúdios e plataformas, incluindo a Netflix, como uma poderosa produtora de conteúdo, colecionando prêmios. Tem vários programas de sucesso, incluindo “Succession”, “Curb Your Enthusiasm”, “Barry” e “Last Week Tonight With John Oliver”. Além disso, conta com uma enorme biblioteca que inclui títulos como “The Sopranos”, “Game of Thrones” e “Sex and the City”. A título de comparação, vale dizer que a Discovery tem 15 milhões de assinantes de streaming global, a maioria deles para seu aplicativo Discovery +, enquanto a Netflix ostenta mais 207 milhões de assinantes. Já o serviço de streaming do Mickey, em 2020, contabilizava mais de 73 milhões de assinantes no mundo. Um número superior as expectativas iniciais da empresa que previam alcançar entre 60 e 90 milhões até 2024. Mas vale ressaltar que a Disney+ tem no seu portfólio todos os filmes da saga Star Wars, da Marvel e da Pixar, uma vitrine e tanto. E enquanto todos os players se movimentam para abocanhar seu quinhão no mercado de streaming, a nova gigante, resultado da fusão AT&T e WanerMedia, ainda vive dos lucros da TV a cabo da velha escola, que não está mais nos seus tempo áureos, com grandes investimentos no novo nicho, resta saber se o resultado desta equação será positivo.
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