Acredite se quiser, mas o primeiro a usar o termo pirata foi Homero, na Grécia antiga, entre os séculos IX e VII a.C, na sua Odisseia. Na época, o poeta épico se referia a contraventores que pilhavam os navios e cidades costeiras. O tempo passou e os piratas se modernizaram e alcançaram, inclusive, o universo virtual. E com as restrições sociais impostas pelas autoridades como forma de mitigar o avanço da Covid-19, encontraram vento favorável para ampliar suas conquistas. Com o confinamento, era de se esperar, como de fato aconteceu, que o consumo de produtos audiovisual destinados ao entretenimento, como filmes, séries, músicas e jogos, aumentasse nas principais plataformas de streaming. Porém, este se mostrou um campo fértil para o crescimento de uma erva daninha: a pirataria. Estudo feito pela MUSO, empresa britânica de análise de mercado que registra o fluxo de visitantes em serviços de downloads irregular, apontou que o consumo ilegal de séries e filmes chegou a quase 70% em alguns países. Os italianos lideram o ranking, com aumento de 66% na pirataria digital, seguido por espanhóis (50,4%), ingleses (42,5%) e americanos (41,4%). E até os alemães, duramente afetados pelo Corona Vírus, aumentaram em 35,5% o número de downloads ilegais. E a praga, a exemplo da Covid-19, se disseminou por toda Europa e Américas. Os números mostram que um crescimento sem precedentes nas visitas a sites de pirataria de filmes online, que tiveram início na última semana de março, coincidentemente o período em que os governos da Europa, Estados Unidos e Brasil, para citar alguns países, começaram a colocar em prática seus protocolos de isolamento social. Ou seja: à medida que os cidadãos se isolavam, a demanda por conteúdo via pirataria aumentava exponencialmente.
Download de Filmes lidera o Ranking da Pirataria
Ainda segundo a análise, há uma discrepância quando comparamos as visitas de sites gerais de pirataria, como trackers torrent, e portais que fazem streaming de séries e filmes, como o Popcorn Time. O placar, segundo a pesquisa é de 137,4 milhões de visitas em portais de download contra 60,3 milhões de acessos a serviços como o oferecido pelo Popcorn Time. Aliás, vale esclarecer para quem não conhece esta é uma multiplataforma livre e de código aberto que inclui um tocador de mídia e que se propõe a ser uma alternativa gratuita para serviços de vídeo sob demanda em assinatura, como o Netflix. Em tese, qualquer filme ou série que exista na internet na forma de torrent (um protocolo de conexão que acelera e simplifica a tarefa de baixar arquivos grandes, como conteúdos audiovisuais, via Internet) pode ser assistido por meio dele, inclusive filmes recém-chegados aos cinemas, mesmo que em qualidades duvidosas. Não é à toa que o Popcorn Time seja um serviço instável e que, por ferir as regras de direitos autorais, seja constantemente retirado do ar. Uma das explicações para esta divergência pode ser a ausência de eventos esportivos ao vivo, o que, certamente aumenta os acessos ilegais a estas plataformas.
Proliferação dos Serviços de Streaming
De acordo com Cam Cullen, VP da Marketing da Sandvine, isso é uma consequência direta da proliferação dos serviços de streaming. De olho numa audiência crescente, sobretudo com o isolamento social e a necessidade de entretenimento sem sair de casa, mais e mais estúdios e produtoras passaram a replicar o modelo de negócios vencedor da Netflix e correram para lançar suas próprias plataformas de streaming. Hoje temos Netflix, Amazon Prime, HBO Go, YouTube Premium, FOX Play, Spotify, Deezer, Globoplay, Disney+ , PlayPlus, entre outros. Cada serviço com um catálogo de conteúdos exclusivos, com centenas de filmes, séries, HQs, animações, podcasts e etc., só disponíveis para assinantes. Ainda que as mensalidades sejam baixas, somadas ultrapassam facilmente a casa dos R$ 100,00 por mês, e o consumidor médio não tem como manter toda esta play list, sobretudo numa época
de tanta instabilidade econômica. Então para saciar a sua sede por novos conteúdos, ao invés de gerenciar as assinaturas de forma rotativa, mantendo um número fixo, mas variando entre elas, acabam optando pelos downloads em sites piratas.
Felizmente, as tendências de pirataria ou consumo não-licenciado estão intimamente ligadas ao crescimento da oferta de conteúdos pagos ou licenciados. No período de pandemia, a Netflix também ampliou significativamente sua base de assinantes, registrando um crescimento de 15,7 milhões de assinaturas. Já o Disney+, quando desembarcou no mercado americano chegou à marca de 50 milhões de usuários em apenas cinco meses, surpreendendo as expectativas de seus executivos. Outra boa notícia é que o processo de retomada das atividades não apenas causou uma redução nesses números, mas levou o tráfego do segmento a uma baixa histórica de cerca de 25%, com totais menores que os registrados no início de 2020, antes do isolamento social, apontou ainda o relatório da MUSO, empresa de análise de mercado que registra o fluxo de visitantes em serviços de downloads irregulares. De acordo com a estimativa, as páginas que disponibilizam conteúdo pirata recebem atualmente pouco menos de 350 milhões de acessos em todo o mundo. O total, inclusive, é menor que o registrado em fevereiro de 2020, quando os sites do segmento registravam cerca de 450 milhões de acessos. A tendência, segundo os analistas, é que a queda continue a medida em que os países iniciam seus processos de reabertura e vacinação.
Tendência em Queda
A baixa, porém, foi sentida de forma diferenciada segundo o tipo de conteúdo disponibilizado. Serviços que ofereciam filmes piratas, por exemplo, tiveram queda maior do que as plataformas musicais, saindo de aproximadamente 64 milhões de acessos no começo de fevereiro para cerca de 43 milhões no final de maio de 2020. Já nos sites de música, a média atual é de cerca de 36 milhões de acessos a páginas desse tipo, contra aproximadamente 55 milhões no começo de fevereiro. Segundo os analistas da MUSO as tendências no mundo da pirataria são bastante voláteis e essa baixa não indica um congelamento das atividades irregulares. Além disso, novas ondas de infecção podem gerar novas quarentenas que certamente levarão a uma busca por conteúdo online que pode chegar a compensar o movimento de baixa visto nas regiões onde já houve reabertura. Ainda assim, os números chamam atenção pois mostram que o tráfego em sites de conteúdo irregular teve um pico de 50% no início da pandemia e agora apresenta a maior baixa em utilização das últimas duas décadas. Este efeito, inclusive, deve ter reflexos nas receitas de publicidade que mantêm a operação de muitas páginas piratas, tornando o negócio menos atrativo.
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