O Facebook Inc. anunciou no final de outubro que agora sua a controladora, responsável
também pelo Instagram e WhatsApp, passa a se chamar Meta. Poucos minutos após a
divulgação da novidade, feita por Mark Zuckerberg, cofundador e CEO da empresa, o termo
metaverso, antes restrito ao universo tecnológico, já estava, literalmente, na boca do povo.
Mas nem por isso deixou de suscitar dúvidas sobre o seu significado. Para quem ainda não
agregou a expressão ao seu vocabulário por desconhecimento do conceito, vale esclarecer que
“metaverso” é uma junção do prefixo “meta” (que significa além) e “universo”. É um termo
cunhado para descrever o conceito de uma interação futura da internet, que promete
revolucionar a nossa forma de consumir conteúdos, sobretudo entretenimento e publicidade.
Em entrevista para a CNN Brasil, o professor do curso de publicidade e propaganda
da USP, Luli Radfahrer explicou que a ideia do metaverso representa a possibilidade de
acessar uma espécie de realidade paralela, em alguns casos ficcional, em que uma
pessoa pode ter uma experiência de imersão. “Tecnicamente, o metaverso não é algo
real, mas busca passar uma sensação de realidade, e possui toda uma estrutura no
mundo real para isso”, afirma.
Mas a ideia do metaverso não é algo novo. É um termo que surgiu na década de 1980
com o livro ‘Snow Crash”, clássico da literatura cyberpunk. No cinema o conceito foi
muito bem explorado pelas irmãs Wachowski em “Matrix”, filme que mostra um mundo
colapsado, que usa a tecnologia para transportar as pessoas para uma outra dimensão,
simulada, onde o frágil corpo físico é capaz de tudo. Basta uma simples atualização de software
para personagens fracotes se tornarem lutadores excepcionais, por exemplo. A trama,
estrelada por Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss, aliás, deve voltar às telas ainda este ano, no
final dezembro, com a continuação “The Matrix Resurrections”. O primeiro Matrix foi lançado
em 1999 e junto com as sequências, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, ambas de 2003,
a franquia faturou US$1,6 bilhão nas bilheterias mundiais, uma prova de que o conceito do
metaverso, pelo menos na ficção, é um sucesso absoluto que tem tudo para migrar com êxito
para o mundo real.
Outro filme que nos ajuda a compreender o metaverso é “Jogador Número 1”, adaptado da
obra homônima de Ernest Cline por ninguém menos que Steven Spielberg. Em entrevista ao
site GamesBeat, o CEO da Activision Blizzard, desenvolvedora e distribuidora americana de
jogos eletrônicos, Bobby Kotick, afirmou acreditar que o futuro do entretenimento seja um
metaverso similar ao representado na história imaginada por Clime. Em 2045, Wade Watts,
assim como o restante da humanidade, prefere a realidade virtual do jogo OASIS ao mundo
real. James Halliday, o excêntrico criador do jogo, morre e deixa sua fortuna inestimável para a
primeira pessoa que descobrir a chave de um quebra-cabeça diabólico que ele arquitetou. Mas
para vencer, Watts vai precisar abandonar a existência virtual e experimentar a realidade se
abrindo, inclusive, para o amor. Segundo o executivo os avanços tecnológicos nos campos de
realidade virtual, realidade aumentada e processamento em nuvem podem promover, em
breve, uma evolução que torne cada vez mais possível diversos elementos do romance de Cline.
Meta já é realidade nos Games
Já o universo dos games, desde a década de 90, usufrui das bases do conceito do metaverso,
permitindo aos jogadores uma imersão em outros mundos, onde podem interagir com outras
pessoas. Em 2003, a ideia se expandiu com o surgimento do jogo “Secund Life”, o pioneiro na
concepção de um mundo virtual. Desenvolvido pela LindenLab, o game é hoje habitado por
mais de 2 milhões de avatares. A empresa, aliás, faz questão de ressaltar que não se trata de
um jogo, e sim de um simulador social, apesar do visual bem parecido com o jogo “The Sims”,
da EA.
Mais recente, o jogo Fortnite, da Epic, chegou para dar um upgrade no universo de
possibilidades do metaverso. Tim Sweeney, CEO e cofundador da empresa, descreve o
conceito como “um mundo virtual 3D onde as pessoas têm o mesmo poder de criar e interagir
em tempo real em experiências compartilhadas em uma economia com impacto social”. Nesse
sentido, embarcar no Fortnite é a maneira mais rápida de entender o metaverso e como ele
mudará as relações humanas com a tecnologia e modo de interagir em sociedade.
Fortnite alimenta um mundo virtual e compartilhado, onde jogadores e marcas são capazes de
interagir. Além das batalhas propostas pelo game, há cada vez mais shows, eventos e até
lançamentos de produtos dentro do próprio jogo. Fanta, Havainas, Ruffles são algumas das
marcas que usaram o universo de Fortnite para promover seus produtos. Até o personagem
John Week, também interpretado por Keanu Reeves, deu o ar da graça por lá recentemente, no
lançamento do terceiro filme da série. O game também já abrigou um show do rapper Travis
Scott (e muitos outros cantores e DJs, em outros momentos), com a presença digital de 14
milhões de jogadores espelhado pelo globo. E em parceria com a revista Time, homenageou
Martin Luther King Jr. e seu histórico discurso “I Have a Dream” (“Eu Tenho um Sonho”), de
1963, realizado em Washington, nos Estados Unidos. Bastava entrar no game para ver uma
espécie de museu do ativista, onde diversos momentos históricos puderam ser acompanhados.
Facebook é Meta
Muito se especula que a iniciativa do Facebook de alterar o nome do grupo para Meta seja uma
forma de dissociar as críticas e escândalos hoje relacionados a marca. O mais provável é que
seja uma forma de unir o útil ao agradável, já que a criação de um metaverso é o assunto
preferido de Mark Zuckerberg nesses últimos tempos. Ao falar sobre as vantagens da
tecnologia, o CEO afirmou que as casas dos usuários são espaços pessoais, de onde, num futuro
próximo, eles vão poder se teleportar para onde quiserem. Ele também disse que vão ser
criadas novas formas de interagir com várias plataformas, de uma maneira mais fácil e
divertida, como convidar os amigos para explorar videos, aplicativos e jogos, como o “Horizon
Worlds”. Nesse game, desenvolvido e publicado pela Meta Platforms para o Microsoft
Windows e Oculus Quest, que está atualmente em uma fase beta somente para convidados, já
é possível criar mundos personalizados com várias camadas de interatividade. O metaverso
imaginado pela empresa ainda pode usar tecnologias para criar versões digitais de usuários, de
empresas, lojas e locais para praticar esportes, ou até para assistir shows de música.
Especula-se que o metaverso que está sendo desenvolvido pela Meta seria uma conexão
simultânea de todas as suas redes – Facebook, Whatsapp e Instagram. O próprio Zuckerberg já
explicou que o objetivo é criar um espaço que misture sociabilização, trabalho e
entretenimento, onde pessoas geograficamente distantes possam se encontrar virtualmente,
seja para se divertir ou aprender. Em entrevista ao site The Verge, o CEO afirmou que o
metaverso “é um ambiente persistente e síncrono onde podemos estar juntos, que
provavelmente vai se assemelhar a algum tipo de híbrido entre as plataformas sociais que
temos hoje com um ambiente digital onde o usuário estará incorporado nele”. Com esta
poderosa tecnologia, é possível que a Meta esteja a poucos pixels de se tornar um espaço
tangível e visitável, um admirável mundo novo que, em breve, estaremos ávidos por explorar.
Mas ao invés de fazermos às malas vamos configurar um avatar, uma versão virtual revista e
melhorada de nós mesmos. É a vida imitando a arte.
Rush Video – Ideias em Movimento