A edição de 2022 do Festival de Cannes, um dos mais importantes eventos da indústria cinematográfica mundial, foi marcada pelo desfile de celebridades e premiações que dividiram opiniões. Nomes como Tom Cruise – que elegeu o evento para o lançamento de seu último longa: “Top Gun: Maverick”, exibido fora da competição – Julia Roberts, Eva Longoria, Michael Fassbender, Alicia Vikander, Poppy Delevingne, Anne Hathaway e as brasileiras Alessandra Ambrosio, Marina Ruy Barbosa, as ex-BBBs Sarah Andrade e Rafa Kalimann e a influenciadora de moda Thássia Naves, fizeram a alegria dos fotógrafos. Mas longe do agito da Croisette, a seleção de participantes foi classificada como morna pela crítica especializada e na falta de grandes expoentes, que despertassem um sentimento de unanimidade, duas importantes categorias optaram pelo empate, fazendo com vaias e aplausos se alternassem na cerimônia de entrega dos prêmios. A Palma de Ouro, o prêmio máximo, ficou para “Triangle of Sadness”, título bastante aguardado pela cena dos festivais. Com isso, seu diretor, o sueco Ruben Östlund, de apenas 48 anos, entrou para um seleto grupo de cineastas com duas Palmas de Ouro no currículo, dividindo a honraria com nomes do calibre de Emir Kusturica, Francis Ford Coppola e Ken Loach.
Crítica Social
Apesar da expectativa, o grande vencedor dividiu opiniões ao tecer uma ácida crítica aos bilionários, fazendo piadas com temas como capitalismo, comunismo e feminismo, numa trama que acompanha um casal de modelos, aspirante a influenciador digital, que é convidado para um cruzeiro de luxo, repleto de ricaços. O navio, porém, acaba naufragando e a hierarquia de classes é subvertida quando a única pessoa capaz de sobreviver na inóspita ilha onde vão parar é a faxineira filipina. A exemplo da sua também premiada produção anterior, “The Square”, Östlund usa o sarcasmo para instigar acaloradas discussões sociais, que ganham corpo graças a situações extremas, onde o caráter dos personagens é colocado à prova.
Empate
Os filmes “Stars at Noon”, melodrama político dirigido pela mítica Claire Denis, e o celebradíssimo “Close”, de Lukas Dhont, dividiram o Grand Pix. Já “Le Otto Montagne” e “EO”, compartilharam o Prêmio do Júri, fragmentando assim às atenções em duas das principais categorias. Jerzy Skolimowski, diretor de “EO”, arrancou gargalhadas da plateia ao agradecer nominalmente os seis burros que estrelam seu longa. “Obrigado, meus burros. I-ó”, disse. Vale destacar que os animais viraram atração na Riviera. As melhores interpretações ficaram com Zar Amir Ebrahimi, pela protagonista de “Holy Spider”, produção que causou polêmica ao abordar o feminicídio no Irã, e Song Kang-Ho, astro sul-coreano, que venceu por “Broker”, o novo longa de Hirokazu Kore-Eda.
Prêmio Especial
Os 75 anos de festival, comemorados em 2022, foram marcados pela entrega de um prêmio especial aos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, de “Tori et Lokita”. Nas categorias direção e roteiro, os vencedores foram Park Chan-Wook, de “Decision do Leave”, e Tarik Saeh, de “Boy from Heaven”. Já Câmera de Ouro, honraria destinada ao melhor estreante de qualquer categoria, ficou com Riley Keough e Gina Jean-Pierre e Luc Dardenne Gammell e seu “War Pony”, com menção especial a “Plan 75”. A Palma de Ouro de curta-metragem foi arrematada por “The Water Murmurs”, enquanto “Lori” faturou uma menção especial. Vale destacar que dos 21 filmes na disputa, 10 saíram com prêmios.
E assim, depois da polêmica causada por Will Smith ao estapear o comediante Chris Rock durante a cerimônia do Oscar ofuscar o brilho da festa e dos vencedores, o evento de Cannes, emoldurado pela paisagem paradisíaca da Riviera francesa, se encerrou sem maiores sobressaltos, com o equilíbrio certo entre cinema, celebridades e protestos em favor da Ucrânia e outras causas. Provando que arte pode, sim, ser uma forma pacífica de expressão política.
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