Semana passada contamos aqui no Ideias em Movimento, o passo a passo da realização de nosso primeiro curta-metragem, Trala Land.
Essa semana vamos contar pra vocês da produção do segundo curta, Abelha Rainha.
Ao contrário de Trala Land, que busca uma narrativa de cinema mais experimental, Abelha Rainha é nossa comédia de boteco feminista.
Vocês já observaram como a paisagem nos botecos mudaram? Há trinta anos atrás não víamos um grupo tão numeroso de amigas reunidas num boteco como hoje. Isso sem dúvida representa um avanço no cenário social.
Mas não era isso que nos interessava desenvolver, e sim outro detalhe mais peculiar. Em suas andanças pela noite o roteirista Hamilton Rosa Jr. se deparou com uma cena inusitada: uma senhora, de uns 60 anos, tomando um suco de laranja e gozando dessa liberdade feminina, olhando para as jovens com um orgulho, uma satisfação.
A cena real e maravilhosa, levou o roteirista a conversar com o atendente do bar a respeito.
– Interessante , ele comentou, é ela estar tão alegre tomando um suco de laranja. O barman corrigiu a observação: não, ela não estava tomando um suco de laranja puro, o suco era batizado!
Foi o gatilho que o roteirista precisava. Escreveu o primeiro tratamento em uma tarde. E trouxe aqui na Rush Video para a gente ler. Imediatamente resolvemos transformar o roteiro num filme.
A história de duas mulheres, uma na faixa dos 30 anos (interpretada no filme por Luciane Aranha) e outra, uma senhora de 60 anos (vivida pela veterana atriz de teatro, Inês Fabiana), que se encontram na noite. Aparentemente, as duas divergem em pontos de vista, mas quando o assunto sexualidade entra em pauta, as duas percebem que suas vidas possuem mais pontos em comum do que imaginavam.
O desafio maior do projeto foi ele ser rodado quase ao mesmo tempo que Trala Land. Os ensaios com o elenco duraram dois meses, e usamos uma sala do MIS Campinas para criar toda a encenação. Antes mesmo de escolhermos a locação, projetamos um bar imaginário e fomos desenvolvendo a química entre as duas atrizes.
Inicialmente, Abelha Rainha seria uma comédia brega, rodado num karaokê decadente, e a trilha sonora seria composta apenas de músicas de Reginaldo Rossi. Esse era o plano. Mas diante das dificuldades de adquirir os direitos das canções com os herdeiros do cantor, decidimos procurar músicos da noite campineira. Foi assim que chegamos no cantor e compositor Kha Machado e na incrível cantora Ieda Cruz. Ambos leram o roteiro e abraçaram o projeto, que a partir daí passou de uma sonoridade kisch, para um tom mais bossa nova.
O filme ganhou um clima mais equilibrado, refinado, sendo assim, o bar também não podia ser qualquer karaokê da esquina. Tinha que ter uma beleza cenográfica. O tradicional bar pizzaria Piola entrou na história neste ponto. Com uma iluminação decorativa que privilegia fitas de LED, neon e lustres, o que nos chamou a atenção na casa, foi como temperaturas de cores mais baixas, criam ambientes mais agitados. Para o que pretendíamos, essa sensação pareceu perfeita.
Decidida a locação, partimos para os ensaios in loco, com o objetivo de tecer toda a movimentação dos atores e o trabalho de câmera. Toni Ferreira se esmerou da produção, enquanto a direção ficou com o Hamilton, a câmera com Carlos Garcia e a direção de arte e o som, com Mary Kuhn. Uma equipe pequena, mas bem experimentada pra fazer o projeto acontecer.
Rodamos de dia, com as janelas do Piola todas fechadas para criar um clima de uma deliciosa noite de verão, daquelas que um copo de chopp é insuficiente.
E nos divertimos à beça.
Lembrando sempre que um clima de filmagem gostoso sempre cativa a equipe e contribui para um resultado divertido.
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