Semana passada fui assistir a Masterclass “O Som no Processo Criativo no Audiovisual”, com a professora Carolina Barranco da Academia Internacional de Cinema dentro da 12ª Mostra de Curtas de Campinas, no Estação Cultura. E Carolina aproveitou para mostrar alguns trabalhos elaborados em desenho sonoro que estão sendo feitos em filmes nacionais ultimamente.
Os dois longas que foram apresentados para gente foram o suspense “Um Homem Cordial” e o terror “A Sombra do Pai”.
É interessante, os efeitos sonoros têm um poder oculto, afetando os espectadores de maneira sutil. Digamos, por exemplo, um som inesperado – a batida de uma porta, arranhões numa superfície de madeira, goteiras, ou barulho de passos sinistros no escuro – faz você ficar tenso ou tremer em seu assento, mas o curioso é que esses sons não sâo lembrados depois que você sai do cinema. Nem é para ser mesmo. Foi impressionante ver como a diretora do filme Gabriela Amaral Almeida foge dos clichês para criar barulhos que progressivamente criam uma tensão. Numa das cenas de A Sombra do Pai, o simples ruído de uma balança de parque infantil, gera uma ansiedade crescente em cena.
Um dos alunos, que assistia a Masterclass, perguntou quem era o técnico de sonoplastia que tinha trabalhado no filme.
Carolina corrigiu o aluno. Sonoplastia não é um termo usado para denominar o pesquisador que cuida da engenharia de recriação sonora num filme. Sonoplastia é um termo usado em rádio, não em vídeo, ou cinema. Verdadeiramente são os Artistas de Foley (ou Foley Artists) que são responsáveis para criar essa ambientação sonora num vídeo ou filme.
De onde vem esse termo?
Essa arte dos efeitos sonoros leva esse nome, graças a um técnico de som muito inovador chamado Jack Foley.
Nos 33 anos em que o pioneiro dos efeitos sonoros Jack Foley trabalhou no Estágio 10 da Universal Studios, ele nunca recebeu um crédito na tela por suas contribuições inventivas e às vezes econômicas. Mas a arte que ele criou nos primeiros dias do do cinema falado (sim, estamos falando dos anos 30) foi batizada com o nome dele e faz parte de tudo que praticamente são criados hoje em termos de efeitos em cinema, TV, comerciais etc.
Quase todo som que ouvimos nos vídeos ou filmes que não são diálogos ou música é um efeito sonoro. De passos a tiros, do leve farfalhar de roupas ao rugido de fogo de um jato, o som é criado por um Artista de Foley ou deliberadamente colocado ali por um editor de som, que saiu para gravá-lo ou o selecionou de uma vasta biblioteca, combinando com outros sons.
Muitas das primeiras imagens sonoras tinham diálogo e música, mas ninguém se atentava para o ruído do movimento. Logo os editores começaram a cortar sons de passos para os atores, mas usavam as mesmas faixas repetidas vezes. Foley teve a idéia de projetar a imagem em movimento em um palco sonoro e gravar sons em sincronia com os movimentos dos atores, usando diferentes superfícies e uma série de adereços. Dizia-se que Foley era tão bom nestes macetes, que conseguia fazer o som de três homens caminhando juntos, usando apenas seus dois pés e uma bengala.
O último trabalho de Foley foi na superprodução Spartacus. O diretor Stanley Kubrick queria refazer a trilha do exército romano que marchava para a batalha porque o som do local não era bom. Foley correu até seu carro e pegou um grande anel de chaves. Ele então sincronizou as chaves com o passo da marcha dos romanos, criando ritmo pra armadura e poupando a produção de uma filmagem de dois dias com extras de soldados. Os artistas foley de hoje seguem as técnicas estabelecidas por Foley (que morreu em 1967), mas ao contrário dele, hoje eles recebem crédito pelo seu trabalho.
Então se algum dia, num set de produção alguém te perguntar da onde vem o termo “Foley”, você já sabe a verdadeira origem do nome.
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