VOCÊ SABE O QUE É DEEPFAKE?

O termo deepfake ganhou as manchetes nos últimos dias depois da divulgação da notícia de que Bruce Willis, astro de filmes como a série “Duro de Matar” e “Sexto Sentido”, teria vendido os direitos de uso da sua imagem. O fato ganhou repercussão extra devido ao anuncio recente de sua aposentadoria após um diagnóstico de afasia, perda parcial ou total da capacidade de expressar ou compreender a linguagem falada ou escrita. Com a iniciativa seria possível garantir seu retorno às telas sem que ele precisasse pisar num set de filmagem ou decorar um script. Possibilidades da tecnologia que trouxe um impacto imediato, forçando seus representantes a divulgarem uma nota de esclarecimento, segundo a qual o que aconteceu foi uma ação pontual e que ele segue como detentor dos direitos de exploração da própria imagem. Como era de se esperar, a iniciativa descortinou um universo de possibilidades, dando origem a um debate que promete agitar o universo audiovisual. O uso desta tecnologia, contudo, não é uma novidade, e desde a sua criação os riscos do seu uso indevido já são objeto de preocupação, uma vez que permite adulterar vídeos e áudios com resultados impressionantes e muito convincentes, fazendo-os parecer originais.

O que é deepfake?

 

Graças a tecnologia hoje já é possível usar recursos de inteligência artificial (IA) para colocar o rosto de uma pessoa no corpo de outra, fazendo com que gestos e falas pareçam absolutamente autênticos. Foi esta técnica que permitiu a Willis, visivelmente mais novo em cena, participar de um comercial da operadora de telefonia móvel russa MegaFon sem precisar sair de casa. “Com o advento da tecnologia moderna, mesmo estando em outro continente, pude me comunicar, trabalhar e participar das filmagens. É uma experiência muito nova e interessante, e agradeço a toda a nossa equipe. É um minifilme no meu gênero usual de comédia de ação. Para mim, é uma grande oportunidade de voltar no tempo”, disse o ator que assim se tornou a primeira celebridade de Hollywood a permitir o uso de sua imagem pela deepfake.

Como funciona a tecnologia?

As ferramentas de deepfake, como o aplicativo Reface; os sites DeepSwap e DeepFakes Web; e os programas FaceApp e DeepFaceLab, conseguem mapear a estrutura do rosto de uma pessoa e fazer a sobreposição com o corpo de outra, sendo possível ajustar a movimentação do vídeo original ao novo rosto e isso inclui expressões faciais e movimentos labiais. A técnica também permite a manipulação de áudios, onde podem ser criadas gravações simulando a voz de determinada pessoa, deepfakes textuais, capazes de gerar textos imitando o estilo de um autor e até deepfakes em tempo real, sendo possível alterar o rosto em transmissões ao vivo, graças ao software DeepFaceLive, por exemplo.

Riscos

Ainda que o alvo principal da tecnologia, pelo menos neste momento, sejam astros de Hollywood e celebridades, nada impede que um indivíduo mal-intencionado manipule a imagem de um terceiro, colocando esta pessoa numa situação constrangedora de forma deliberada para lhe imputar algum tipo de prejuízo. Apenas a título de ilustração, recentemente a técnica foi utilizada com fins eleitorais para a propagação de fake news ao fazer uso da imagem da apresentadora do Jornal Nacional, Renata Vasconcelos, mostrando dados de uma falsa pesquisa de intenção de votos.

Como identificar um deepfake

Para evitar propagação de fake news ou até mesmo se precaver de uma cilada, analise cuidadosamente os vídeos que colocam alguém conhecido, seja ou não uma figura pública, numa situação duvidosa ou embaraçosa. A primeira dica é assistir o conteúdo várias vezes, em diferentes velocidades, o que facilita a identificação de falhas. Vale também observar atentamente o rosto da pessoa no vídeo. Note a textura da pele, olhos, sobrancelhas e a boca e tente identificar falhas, como uma pele muito lisa ou enrugada ou um piscar de olhos fora de sincronia. Por fim, valide através de fontes seguras e não compartilhe.
Dentro deste novo cenário, é preciso ainda cuidado ao enviar vídeos pessoais, evitando assim que possam ser utilizados como matéria-prima para deepfake. Por enquanto, ainda não existe legislação específica para combater o mau uso desta tecnologia, que se enquadra como um crime cibernético. Mas na indústria do entretenimento o debate sobre os limites do seu uso já está em pauta, visto que a técnica permitiria “ressuscitar” atores mortos não com o fim de concluir um trabalho, mas para que participem de novas produções, com encontros de astros de diferentes gerações, por exemplo. As possiblidades são infinitas, sendo necessário colocar em pauta a discussão dos limites éticos.

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