A transformação digital está revolucionando os diferentes setores produtivos, num processo que só tende evoluir, e dentro deste contexto a realidade virtual é uma das grandes tendências. Recurso bastante usado em videogames, ações militares e na medicina, apenas para citar segmentos onde seu uso já é recorrente, esta tecnologia tem ganhado espaço também no cinema. Você já parou para se perguntar como serão as projeções daqui a 20 anos? Especialistas garantem que a RV permitirá que os espectadores tenham experiências personalizadas. Dentro deste admirável mundo novo, o desafio dos filmes não será mais abordar o tema em suas narrativas – como acontece em produções como “O Vingador do Futuro”, “Tron: O Legado”, “O Jogador Nº 1 e a série “Matriz”, apenas para listar alguns dos exemplos – mas produzir conteúdos que promovam uma imersão através dos artifícios da RV, instigando os sentidos para que o público possa, de fato, vivenciar, de forma autônoma, e não apenas assistir passivamente, as situações apresentadas na tela.

Inspirado nesta premissa, o documentário “Step to The Line” tem como objetivo mostrar qual é a sensação de se estar dentro de uma prisão de segurança máxima por meio desse recurso tecnológico. A intenção é provocar uma transformação no olhar da audiência sobre os prisioneiros e o sistema prisional. A produção em RV, totalmente filmada em locações reais, acompanha o trabalho feito pela ONG Defy Venture e sua realização contou com o apoio da O2 Filmes – produtora independente brasileira, responsável por títulos conhecidos internacionalmente, como “Cidade de Deus”, dirigido por Fernando Meirelles, e “Blindness”, do mesmo diretor, adaptação cinematográfica do romance “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago. A produção ficou a cargo da Oculus, braço de realidade virtual da Meta, conglomerado que agrega Facebook, Instagram e Whatsapp. O documentário faz parte do projeto VR For Good, que tem como objetivo conectar dez cineastas em ascensão com dez organizações sem fins lucrativos, para contar suas histórias por meio de RV.

Mas o que muita gente não sabe é que este projeto foi conduzido pelo premiado designer e diretor brasileiro Ricardo Laganaro, um dos expoentes do movimento RV dentro da indústria do entretenimento, que hoje representa a vanguarda da sétima arte. “A realidade virtual é o futuro do cinema”, diz Laganaro. Para ele, os óculos de realidade virtual tendem a ficar cada vez mais baratos com o tempo e o formato deve seguir evoluindo para proporcionar entretenimento de forma diferente e cada vez mais interativa. “Step to The Line”, que estreou no Tribeca Film Festival, em 2017 e rodou o mundo, participando de 30 festivais, está disponível no aplicativo Within. Além disso, a produção faz parte da seleção exclusiva do MIT Open Documentary Lab e também está disponível na plataforma Docubase, do próprio laboratório.

Made in Brasil

Formado em comunicação social na ECA-USP, publicidade na ESPM e realização cinematográfica na New York Film Academy, além de sócio e Chief Storytelling Officer no estúdio ARVORE Experiências Imersivas em São Paulo, Ricardo Lagaro acumula premiações importantes dentro da indústria do audiovisual. Sua obra mais recente “The Line”, ganhou o prêmio de “Melhor experiência de realidade virtual” no 76º Festival de Cinema de Veneza e o prêmio Primetime Emmy 2020 por “Inovação excepcional em programação interativa”. Narrado pelo ator Rodrigo Santoro e produzido pela ARVORE, “The Line” é uma experiência narrativa interativa em realidade virtual sobre amor e medo da mudança. A partir de uma maquete da São Paulo dos anos 1940, a produção nos convida a mergulhar no mundo de Pedro e Rosa, dois bonecos em miniatura perfeitos um para o outro, mas relutantes em romper barreiras e superar suas limitações para viver uma história de amor.

O Futuro da Experiência Cinematográfica

Apesar das restrições impostas pela pandemia e da ascensão do streaming neste período, que permite assistir uma vasta seleção de filmes e séries no conforto do nosso lar, continuamos pagando pelos ingressos de cinema. E por que isso acontece? Porque somos movidos pela experiência proporcionada pelas salas de cinema. E a realidade virtual chega justamente para turbinar esta vivência que já evoluiu muito ao longo dos anos. Hoje já contamos com telas gigantes, projeção a laser, novas tecnologias de som e imagem, além das salas 4D, que oferecem ao público uma experiência audiovisual sem precedentes, com efeitos e sensações sincronizados ao filme. Para isso, as poltronas contam com sistema eletrônico de movimentos, que permite simular quedas, trepidação e vibrações, além de aceleração e frenagem. E nesta busca frenética por inovação, novas e mais elaboradas tecnologias surgem, agora envolvendo a realidade virtual, que tem como proposta inserir o público num ambiente (que pode ser real ou ficcional) onde, por meio de aparatos tecnológicos, é possível despertar sensações físicas reais com percepções bastante realistas que podem, inclusive, incluir sensações táteis. É uma área que tem crescido consideravelmente nos últimos anos, com a criação de óculos especiais e headsets, que usam tecnologia de eliminação de ruídos, permitindo uma imersão cada vez mais sensorial.

Mas como é possível simular a realidade? Para começar, os novos modelos de óculos têm espumas ao redor de olhos e nariz, possibilitando ajustes individuais para que o usuário enxergue apenas o conteúdo transmitido pelo aparelho, sem interferência externa. Alguns destes dispositivos são dotados de um ou dois displays LCD por olho, oferecendo um efeito chamado 3D estereoscópico, que promove aquela sensação de que os elementos na cena estão saltando para fora ou afundando. Além disso, os óculos contam com um recurso chamado “head tracking”, que permite a um software interno captar a posição do usuário e, através de um mapa inserido no sistema, determinar qual é a área em sua volta. Assim, ao mexer a cabeça e olhar ao redor, o sistema entende o movimento e as imagens são deslocadas na mesma direção, promovendo uma sensação de completa imersão. O espectador ainda pode ou não interagir dentro da realidade virtual em que está inserido, de acordo com as configurações do sistema. Para o artista e guru da realidade virtual, Chris Milk, os filmes do futuro oferecerão experiências imersivas sob medida. Milk, inclusive, cunhou o termo “story living” (vivendo a história), uma alternativa ao famoso “storytelling” (contando a história). Para a Lynette Wallworth, cineasta australiana, conhecida por seu uso inovador de tecnologias emergentes e vencedora do Emmy, a RV deve expandir o alcance dos filmes tradicionais, permitindo o espectador não apenas assistir ao filme como já fazemos hoje, mas também experimentar a imersão nas cenas que julgar mais interessantes.

De olho no futuro, a Holanda já conta com a The VR Cinema, uma sala de realidade virtual. A IMAX, empresa canadense responsável pela criação do formato Imagem Maximum que tem a capacidade de mostrar imagens muito maiores em tamanho e resolução do que os sistemas convencionais de exibição de filmes, também vem investindo nessa área, com seu centro de

realidade virtual. Uma sala localizada em Los Angeles (EUA) e outra em Manchester (Reino Unido) serão as primeiras a receberem a tecnologia. As distribuidoras seguem a mesma trilha e já estão de olho no potencial desta tecnologia. A Fox, por exemplo, firmou parceria com a Felix & Paul, produtora especializada em realidade virtual, para criar conteúdo imersivo inspirado em filmes e personagens do estúdio. A Sony e a Disney seguem caminho semelhante e a MGM liderou o fundo de investimentos para a startup Survios, que trabalha com a criação de conteúdo interativo com tecnologia de realidade virtual de ponta. E assim o cinema vai construindo um novo capítulo da sua história.

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