Ao contrário da célebre frase do cineasta brasileiro Glauber Rocha, que no início dos anos 1960, chegou a afirmar que cinema se faz com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, ao defender a utilização dos meios de produção artística a serviço da transformação social, as produções audiovisuais sob a perspectiva de produtos de comunicação de massa, carecem, sim, de um roteiro bem estruturado. Seja para veiculação em uma mídia digital, como redes sociais, plataformas de compartilhamento de vídeo e streaming ou para veiculação em cinema e TV, não importa: a roteiro é sempre a base de todo conteúdo audiovisual e por sua importância requer não apenas técnica, mas uma boa dose de criatividade, pesquisa, dedicação e persistência. Doc Comparato, teórico e dramaturgo, define roteiro da seguinte maneira: “É a forma escrita de qualquer audiovisual. É uma forma literária efêmera, pois só existe durante o tempo que leva para ser convertido em um produto audiovisual. No entanto, sem material escrito não se pode dizer nada, por isso um bom roteiro não é garantia de um bom filme, mas sem um roteiro não existe um bom filme”. Não por acaso, roteiristas profissionais às vezes levam anos até chegar à versão final da história que pretendem contar. O roteiro de “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, considerado um dos filmes brasileiros mais importantes de todos os tempos, por exemplo, passou por 12 tratamentos antes de ficar pronto. Obviamente, que este é um exemplo extremo, de uma grande produção, mas no dia-a-dia seguir algumas diretrizes básicas é de grande ajuda para garantir um melhor resultado, com uma narrativa bem estruturada, além de economizar tempo e dinheiro, otimizando as etapas de filmagem e pós-produção. A seguir separamos algumas dicas para a o desenvolvimento de um bom roteiro, ferramenta fundamental para contar uma história consistente e assim transmitir a mensagem pretendida, independente da mídia de veiculação.
Confira agora DICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM BOM ROTEIRO
Estrutura dramática de três atos
Existe um formato de narrativa clássica – que prevê uma estrutura em três atos, com começo, meio e fim – que é cultivado desde as tragédias gregas, na antiguidade. Parece óbvio, mas é preciso estar atento a esta configuração, pois o roteiro precisa, necessariamente, contemplar estas fases.
Uma dica útil é dividir os atos na seguinte proporção: Ato I (início) – 30%, Ato II (desenvolvimento) – 55% e Ato III (conclusão), 15%. Para validar esta divisão, pense em filmes que a história parece demorar muito para engrenar ou que a conclusão é arrastada, demora para acontecer. Isso ocorre porque o Ato I e o III, respectivamente, estão longos demais. O contrário também é frequente e da mesma forma compromete o ritmo e até a compreensão.
Curva Dramática
Além de dividir a ação em três atos (começo, meio e fim), roteiros que contemplam a trajetória de personagens se desenvolvem melhor quando apoiados na chamada curva dramática.
Conforme mostra o gráfico acima, consiste no crescimento da ação até o cume (clímax), em escala ascendente, e o posterior declínio até a normalidade, que possivelmente será transformada pelas ações apresentadas. Ou seja: durante a trama, um personagem corrige ou não uma falha ou trauma, supera ou não ou um obstáculo. É graças a curva dramática que embarcamos na história, torcendo pelos personagens.
Independente do conteúdo audiovisual a ser produzido, estas técnicas podem ajudar na elaboração de um conteúdo de qualidade. Lembre-se que hoje, o expectador não se conecta mais com produtos, serviços ou marcas, mas com histórias (Storytelling). Portanto, mesmo que a intenção seja criar um vídeo destinado à venda ou ainda um institucional, levar em conta os recursos dramáticos aqui apresentados pode ajudar a compor uma narrativa mais fluída e interessante e, consequentemente, aumentar o engajamento e o compartilhamento.