DEEPFAKES E DOWNLOADS ILEGAIS: A NOVA FACE DA PIRATARIA

A pirataria sempre foi um grande desafio para o setor audiovisual. E o avanço da tecnologia, especialmente da inteligência artificial, trouxe novos complicadores para esta já complexa equação. Se no passado, a pirataria no audiovisual se manifestava de forma física, com a duplicação e venda ilegal de fitas VHS e DVD, com a popularização da internet, a prática migrou para o ambiente digital, com a disseminação de arquivos por meio de plataformas de compartilhamento e torrents. Hoje, a pirataria digital se apresenta de forma mais diversificada sendo, portanto, mais difícil de combater. Sites de streaming ilegais, cópias digitais não autorizadas e compartilhamento em massa nas redes sociais são algumas das formas modernas de pilhagem de direitos autorais e propriedade intelectual. Um relatório anual da MUSO, empresa britânica especializada em rastreamento e proteção de conteúdo, revelou que em 2023 houve mais de 30 bilhões de acessos a sites com filmes piratas, um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior. No Brasil, um estudo realizado pelo Instituto IPSOS indicou que as perdas com pirataria representam quase R$ 4 bilhões por ano. Um valor que poderia ser reinvestido na produção de novos conteúdos e na consequente geração de empregos e fortalecimento da economia criativa

Consequências 

O Impacto da IA na pirataria moderna tem duas faces. Se por um lado a oferece novas ferramentas que facilitam e até barateiam o processo de produção de conteúdo audiovisual e disponibiliza ferramentas poderosas para detectar e combater a pirataria, a mesma solução também pode ser colocada a serviço do crime, permitindo a criação de métodos cada vez mais sofisticados e eficientes de distribuição e manipulação de conteúdos, dificultando o trabalho das autoridades. Os piratas modernos, usam de IA para criar cópias “deepfake” de obras audiovisuais, músicas e até mesmo roteiros, a partir de dados existentes, modificando o conteúdo original de uma obra o que dificulta ainda mais a identificação do seu uso ilegal.

Além disso, os deepfakes permitem a criação de vídeos altamente realistas nos quais o rosto de uma pessoa é substituído por outro. Isso pode ser usado para criar conteúdo falso envolvendo principalmente celebridades, políticos ou outras figuras públicas, com o objetivo de difamar ou gerar engajamento em plataformas de pirataria.

Outro mal uso da IA neste contexto é a criação de bots (programa de computador que funciona na Internet e executa tarefas repetitivas) para disseminação em massa de conteúdo pirata. Esses bots conseguem criar e manter milhares de links e arquivos em diferentes plataformas, como redes sociais, fóruns e outros canais online, desafiando a capacidade das ferramentas de monitoramento de IA. Além disso, a IA pode ser utilizada para burlar sistemas de proteção de direitos autorais, identificando vulnerabilidades nos algoritmos de proteção. Já os recursos de IA para a tradução de conteúdos em tempo real, facilitam a distribuição de obras pirateadas em diversos idiomas, ampliando o alcance para um público global.

A indústria audiovisual, por sua vez, tem investido em IA para monitorar, identificar e remover conteúdo pirateado. Ferramentas modernas conseguem varrer grandes volumes de dados na internet em busca de cópias não autorizadas de filmes, séries e músicas, algo que seria impossível de realizar manualmente com a mesma eficiência. Algoritmos de machine learning (aprendizado de máquina) são capazes de reconhecer padrões e identificar conteúdos pirateados, mesmo que estes estejam disfarçados através de técnicas como mudanças de resolução, cortes e edições sutis. Além disso, a IA pode ajudar a automatizar processos legais, como a emissão de notificações de remoção e a coleta de evidências para processos judiciais.

Soluções 

Apesar dos desafios, a indústria audiovisual está explorando várias abordagens para enfrentar o problema. Uma das soluções mais promissoras é a colaboração entre diferentes setores e empresas para o compartilhamento de informações e desenvolvimento de padrões comuns de proteção, numa abordagem equilibrada que respeite tanto a proteção dos direitos autorais quanto os direitos individuais.

Outra opção potencial é o uso de blockchain para criar registros imutáveis de direitos autorais e distribuir conteúdo de forma segura. Esta tecnologia, a mesma utilizada para as criptomoedas, pode ajudar a rastrear a origem do conteúdo e garantir que apenas as pessoas com permissão possam acessá-lo e distribuí-lo. O custo elevado de implantar e manter sistemas eficientes, contudo, é um entrave sobretudo para pequenas e médias empresas, que não dispõem do mesmo nível de recursos das grandes corporações

Para completar, é preciso discutir uma melhoria da legislação de direitos autorais e propriedade intelectual, que necessitam de uma atualização para abarcar as novas realidades impostas pela era digital. Investir na conscientização do público sobre os impactos negativos da pirataria é outra iniciativa importante. Campanhas educativas que destacam como a pirataria afeta a criação de conteúdo e prejudica os profissionais da indústria podem ajudar a reduzir a demanda por conteúdo pirateado. Um desafio complexo, que só pode ser combatido com a conscientização dos usuários e da colaboração mútua de todos os agentes da indústria audiovisual e autoridades. 

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